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‘O Agro Sem Água’: pecuarista ensina como se tornar ‘produtor de água’ adotando técnicas de proteção do solo

Quarta reportagem da série apresenta técnicas para aproveitamento da água da chuva que são essenciais ao agronegócio

“Essa barragem aqui enche, abastece minha propriedade, passa por baixo, vai dar em outra estrada e abastece a barragem do meu vizinho. Aí ela se infiltra, desce por um corregozinho que está querendo perenizar. Isso é resultado de um trabalho de anos. Eu sou o Joaquim, plantador de água, disso me orgulho”, assim começou a conversa com o pecuarista de corte e engenheiro agrônomo Joaquim José da Silva, de 72 anos. Na propriedade dele, em Glaucilândia, no Norte de Minas nenhum córrego ou curso d’água secou esse ano, nem em anos pra trás, como aconteceu com mais de 300 reservatórios e pequenos rios que secaram, em 2024, em Minas, afetando 170 mil famílias rurais, conforme relatório agroclimático publicado pela Emater-MG.

Joaquim não passou por situação semelhante porque há vinte anos, ele vem investindo no processo de conservação de solo de sua propriedade em Glaucilândia, no Norte de Minas. Primeiro, adotou o sistema de terraceamento – técnica que divide áreas inclinadas em várias rampas, como terraços. Isto faz com que a água da chuva perca força, remova menos sedimentos e cause menos impactos no solo.

“Toda chuva que cai penetra na terra. Não tenho mais problemas de erosão. Hoje mesmo caiu uma chuva de 110 milímetros! Era para ter sido um dilúvio, mas meus terraços seguraram perfeitamente. Essa é a minha maneira de contribuir para a retenção de água aqui na propriedade”, explica o produtor, que mantém 35% da propriedade totalmente preservada com mata nativa.

Cuidado com o meio ambiente, antes disso ser uma preocupação

O pai de Joaquim adquiriu a propriedade em 1935. Já naquela época, quando não havia preocupação com mudanças climáticas ou técnicas de conservação de solo, ele demonstrava consciência ambiental e respeito pela natureza. “Foi do meu pai que recebi as primeiras lições ambientais, ainda que de maneira inconsciente”, acredita.

Já formado em Agronomia, Joaquim aplicou as técnicas de manejo e proteção do solo. “Foi também uma forma de nos proteger de vizinhos que não estavam tendo atitudes corretas para conservação do solo, o que estava impactando negativamente minha propriedade. Ver uma ‘voçoroca’ (cratera) no meio das ‘mangas’ (pasto) chega a me doer o coração”.

Próxima empreitada será a sub-solagem do pasto

O pecuarista conta que logo depois de concluir o terraceamento, começaram a brotar olhos d’água na propriedade. “Isso me deixou muito animado: eu havia me tornado um ‘produtor’ de água”, celebra. “Minha próxima empreitada será a subsolagem do pasto, outra técnica capaz de aumentar a infiltração de água no solo”.

Coordenador fala sobre outras técnicas de conservação do solo

Bernardino Cangussu, coordenador-técnico da Emater-MG, elogia o produtor: “Ele fez o dever de casa e, hoje, está tranquilo, reverberando coisas boas para sua propriedade, seu entorno e a natureza como um todo”.

Ele explica que, além do terraceamento, há outras técnicas, que cumprem a função de reservar a água e permitir a correta infiltração no solo, como barraginhas, barramentos e poços artesianos. Mas alerta que as estruturas devem ser feitas em conformidade com a legislação ambiental. “É necessário averiguar a qualidade porque nem toda água que está no subsolo é ideal para beber ou mesmo para irrigação, já que pode conter contaminantes. Também é importante checar o volume do poço para não comprometer a vazão”, exemplifica. “Qualquer intervenção em curso d’água deve ter autorização do órgão competente”.

Conheça outras técnicas com o mesmo objetivo

Plantas de Cobertura – São cultivadas em consórcio com culturas comerciais, como café, frutas e grãos. Consiste em plantar uma mistura de sementes de diversas espécies, manejando-as entre as linhas de cultivo. “As raízes das plantas de cobertura atingem diferentes profundidades, o que favorece a aeração, quebra a compactação do solo, incorporando matéria orgânica em camadas mais baixas e criando galerias que facilitam a infiltração de água. Outro benefício é a palhada que sobra após o corte das plantas. Ela também protege e ajuda na diminuição da temperatura do solo”, explicou Cangussu.

Barraginhas – São bacias abertas no solo para captação de água da chuva. Esses reservatórios previnem erosões causadas por enxurradas e ajudam a armazenar e infiltrar a água da chuva, recarregando o lençol freático.

Barramentos – Utiliza, basicamente, a mesma técnica das barraginhas, diferenciando-se apenas no porte e nos cursos d’água. Os barramentos podem até ser de menor porte, feitos por pequenos produtores para irrigar seus pastos e lavouras. Mas é mais utilizado em médias e grandes propriedades.

Barragens – As grandes barragens do porte das hidrelétricas beneficiam pouco os produtores rurais, de acordo com Cangussu. Basicamente, elas podem ser utilizadas para a criação de peixes, mas como são usadas para produção de energia ou regulação fluvial, possuem uma série de restrições para uso da água.

“Algumas barragens podem ter também o uso recreativo. Próximo a elas é comum a construção de condomínios. Para os agricultores, as mais efetivas são as pequenas barragens, porque o alcance delas é maior. Eu recomendo ter várias barraginhas em uma propriedade para aumentar a caixa de água daquele solo”, aponta o coordenador.

Poço Artesiano – Trata-se de um poço tubular profundo e vertical feito no solo para fins de extração de água. A água que sai dali jorra naturalmente, por isso também é chamado de poço jorrante.

Fonte: Itatiaia Agro

Link para a notícia: https://www.itatiaia.com.br/agro/2024/10/31/o-agro-sem-agua-pecuarista-ensina-como-se-tornar-produtor-de-agua-adotando-tecnicas-de-protecao-do-solo

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